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Versão resumida do texto Leviatã, de Thomas Hobbes para UFPR

    O texto abaixo é um resumo dos capítulos I, II, III, IV e V da obra Leviatã, de Thomas Hobbes, que você vai encontrar na sua prova da UFPR em 2024.  O objetivo é facilitar seu estudo concentrando as principais informações do texto. 

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    Capítulo I

    Da sensação

    No capítulo dedicado à sensação, o autor propõe uma investigação sobre os pensamentos humanos, abordando-os tanto de forma isolada quanto em sequência. Inicialmente, cada pensamento é apresentado como uma representação ou impressão de alguma qualidade ou aspecto de um corpo externo, que normalmente chamamos de objeto. A essência dessa discussão remonta à origem dos pensamentos, identificada como a sensação. Segundo o autor, não existe concepção na mente humana que não tenha sido, em primeiro lugar, derivada, total ou parcialmente, dos órgãos sensoriais. Assim, toda concepção tem sua raiz na sensação, a qual, por sua vez, é provocada pela interação com um corpo externo ou objeto. Este contato pode ser direto, como no tato e no paladar, ou indireto, como acontece com a visão, a audição e o olfato.

    A noção de sensação é associada à ideia de uma aparência ou ilusão que é atribuída ao estímulo externo, embora as qualidades percebidas estejam de fato presentes no objeto causador desse estímulo. O autor esclarece que, embora haja uma distinção clara entre o objeto real e a percepção ou imagem que ele gera em nós, a sensação em si é entendida como uma ilusão originária, resultado da interação ou do impacto das coisas externas com nossos sentidos.

    Contrastando com essa visão, o autor menciona a doutrina ensinada nas escolas de filosofia de várias universidades, fundamentada em textos de Aristóteles. Esta doutrina alternativa sugere que a causa da visão é a emissão, por parte do objeto visto, de uma espécie de projeção visual ou aparência que, ao ser recebida pelos olhos, gera a experiência da visão. De maneira similar, para explicar o entendimento, diz-se que o objeto de compreensão emite uma espécie de entidade inteligível, cuja recepção pelo entendimento nos permite compreender.

    O autor esclarece que sua intenção ao discutir essas teorias não é criticar as universidades em si, mas sim destacar a necessidade de revisão de certos ensinamentos e práticas acadêmicas, especialmente quando se prepara para discutir o papel dessas instituições no Estado. Isso implica uma chamada para a reforma de discursos acadêmicos que, na visão do autor, muitas vezes carecem de significado ou aplicabilidade prática.

    Capítulo II

    Da imaginação

    No segundo capítulo, intitulado “Da imaginação”, o autor explora o conceito de movimento contínuo, uma ideia que serve de metáfora para a maneira como a imaginação funciona na mente humana. Assim como um corpo em movimento continua seu percurso mesmo na ausência da força que inicialmente o impulsionou, da mesma forma, a imagem de um objeto visto persiste na mente após a remoção desse objeto ou o fechamento dos olhos. Esta persistência da imagem visual, mais tênue que a percepção direta, é referida como imaginação em latim, derivada da presença de uma “imagem” mental, ou fantasia em grego, termo que abrange todo tipo de aparência percebida.

    A imaginação é, portanto, entendida como uma sensação atenuada, presente tanto em seres humanos quanto em muitos outros animais, independente de estarem acordados ou dormindo. A clareza da imaginação diminui com o passar do tempo desde a experiência sensorial original, análoga à forma como objetos distantes ou sons se tornam menos distintos e claros. Essa fraqueza da imaginação ao longo do tempo sugere uma proximidade com a memória, ao ponto de ambas serem consideradas manifestações de um mesmo fenômeno, ainda que recebam nomes distintos por diferentes razões.

    O conceito de experiência é introduzido como uma forma de memória ampla, referindo-se à recordação de uma vasta quantidade de informações. A imaginação é limitada às experiências previamente adquiridas através dos sentidos, seja de uma vez só ou fragmentadamente ao longo do tempo. Há também a ideia de uma imaginação composta, onde imagens de experiências próprias são mescladas com ações de outras pessoas, um fenômeno comum entre aqueles que consomem muita ficção.

    O autor discorre sobre como a confusão entre sonhos e outras ilusões fortes com a realidade sensorial contribuiu para o desenvolvimento de crenças religiosas antigas e supersticiosas, como a adoração de figuras míticas e a crença em fantasmas e feitiçaria. A exortação é feita para que o discernimento e a razão prevaleçam sobre tais superstições, argumentando que a liberação dessas crenças infundadas poderia levar a uma maior disposição para a obediência civil e racionalidade.

    Por fim, o autor aponta que, embora os animais possam compreender comandos simples, o entendimento humano é distinto por sua capacidade de conceber e articular pensamentos complexos através da linguagem. Esta habilidade única de entender e comunicar concepções e pensamentos é crucial para a sociedade humana e será explorada mais detalhadamente nos segmentos seguintes do texto.

    Capítulo III

    Da consequência ou cadeia de imaginações

    No Capítulo III, intitulado “Da consequência ou cadeia de imaginações”, o autor adentra o estudo da sucessão de pensamentos, referindo-se a ela como discurso mental, para diferenciá-la do discurso verbal. Esse processo mental é descrito como uma sequência de pensamentos que, assim como as ilusões, são movimentos internos originados na sensação e que se sucedem uns aos outros de maneira contínua após a experiência sensorial inicial.

    A discussão se bifurca em duas categorias principais de discurso mental: o primeiro é caracterizado por sua natureza livre e inconstante, sem um desígnio específico que o guie, assemelhando-se aos pensamentos desconexos que temos durante um sonho. O segundo tipo, em contraste, é definido pela presença de um desejo ou objetivo que regula e dá constância aos pensamentos. Esse desejo intenso por algo ou o medo de algo pode ser tão marcante que chega a interromper o sono, demonstrando a força que nossas paixões exercem sobre o fluxo de nossos pensamentos.

    Essa cadeia de pensamentos regulados se divide ainda em duas espécies: uma orientada para a busca de causas ou meios que levaram a um determinado efeito, um processo mental compartilhado tanto por humanos quanto por outros animais; a outra espécie, peculiar aos seres humanos, envolve a imaginação de possíveis efeitos que podem ser produzidos por alguma causa, ou seja, o que poderíamos fazer com algo que possuímos ou desejamos possuir.

    Ao explorar mais a fundo, o autor argumenta que o discurso do espírito, quando guiado por um objetivo, é essencialmente uma busca ou capacidade de invenção, visando identificar causas de efeitos conhecidos ou os possíveis efeitos de causas conhecidas. Esse processo intelectual, ao qual os latinos se referiam com termos como “sagacidade” e “solércia”, pode manifestar-se tanto na busca de algo perdido quanto na antecipação dos desdobramentos de uma ação com base em experiências passadas, um exercício de previsão ou prudência.

    A prudência é assim contextualizada como uma suposição do futuro baseada na experiência dos tempos passados, enquanto a conjectura sobre eventos passados é igualmente incerta, dependendo da experiência anterior. Essa habilidade de fazer suposições, tanto sobre o passado quanto sobre o futuro, é ampliada pelo estudo, pela indústria e pelo uso inventivo da linguagem, qualidades particularmente humanas que se desenvolvem com a instrução e a disciplina.

    O autor então aborda os limites da imaginação humana, argumentando que tudo que imaginamos é finito, pois não somos capazes de conceber o infinito em termos de magnitude, velocidade, tempo, força ou poder. Alegar que algo é infinito reflete mais nossa incapacidade de compreender seus limites do que uma caracterização real da coisa em si. O capítulo encerra-se com uma crítica às noções filosóficas que desafiam a experiência sensorial direta, como a ideia de ubiquidade ou de múltiplos entes ocupando o mesmo espaço ao mesmo tempo, consideradas absurdas e fruto da aceitação acrítica de autoridades iludidas.

    Capítulo IV

    Da linguagem

    No Capítulo IV, intitulado “Da linguagem”, o autor explora a origem e o desenvolvimento da linguagem, reconhecendo que seu descobridor permanece desconhecido. Destaca-se a linguagem como uma invenção crucial para a preservação da memória coletiva, o estabelecimento de conexões entre comunidades dispersas e a facilitação do entendimento mútuo. A linguagem, composta por nomes e suas conexões, permite aos homens registrar e compartilhar pensamentos, sem a qual não existiria sociedade, Estado, contrato ou paz.

    O autor discorre sobre os usos gerais da linguagem, que incluem a transição do discurso mental para o verbal, permitindo a comunicação e a expressão de conhecimento, vontades e objetivos. Além disso, a linguagem tem usos específicos como a documentação de descobertas, o compartilhamento de conhecimento, a manifestação de desejos para obter ajuda e a utilização de palavras para entretenimento e ornamentação.

    Os abusos da linguagem são identificados como a gravação incorreta de pensamentos devido à inconstância das palavras, o uso de metáforas enganosas, a declaração falsa de vontades e o uso da linguagem para ofender. A linguagem também é fundamental para recordar a relação entre causas e efeitos e para a classificação dos conhecimentos, seja através de nomes comuns ou universais.

    O capítulo enfatiza a importância das definições corretas para evitar erros e confusões nas ciências e na lógica. A verdade e a falsidade são atribuídas não às coisas em si, mas à ordem correta dos nomes nas afirmações. A verdadeira ciência e as doutrinas errôneas são separadas pela correta definição dos nomes, e a ignorância jaz entre as duas.

    A linguagem, com sua riqueza de expressão, pode tornar os homens mais sábios ou mais loucos, dependendo do uso que fazem dela. A contagem e o cálculo são apresentados como exemplos da linguagem aplicada à lógica e à matemática, demonstrando como os nomes e os números podem ser usados para raciocinar sobre o mundo.

    O autor descreve diferentes tipos de nomes usados na linguagem, incluindo nomes abstratos, que se referem a qualidades separadas da matéria, e nomes que refletem as propriedades percebidas pelos sentidos. A linguagem também se ocupa de classificar os próprios nomes e discursos, com exemplos que vão desde termos gerais e universais até nomes de discursos específicos.

    Os nomes negativos e as combinações contraditórias de nomes são criticados por sua falta de significado e sua incapacidade de fundamentar o raciocínio. O entendimento humano, vinculado intrinsecamente à linguagem, é destacado como uma capacidade única que permite a compreensão de discursos significativos, ao contrário das afirmações absurdas e falsas, que não podem ser verdadeiramente compreendidas.

    A variabilidade na significação dos nomes, influenciada pelas diferentes percepções e afetos dos indivíduos, apresenta desafios ao raciocínio e ao diálogo. O autor conclui enfatizando a necessidade de cautela no uso das palavras, reconhecendo que elas carregam não apenas significados diretos, mas também implicam as perspectivas e intenções do falante, especialmente no que diz respeito a conceitos subjetivos como virtudes e vícios.

    Capítulo V  

    Da razão e da ciência

    No Capítulo V, “Da razão e da ciência”, o autor delineia um paralelo entre a prática da aritmética, que ensina a adicionar e subtrair números, e outras áreas do conhecimento como a geometria, a lógica, a política e o direito, que aplicam processos similares em seus respectivos campos. Nestes domínios, a razão é empregada para calcular e deduzir relações entre entidades, seja através da soma de pactos para compreender deveres sociais, ou do cálculo de leis para distinguir o certo do errado nas ações humanas. Essencialmente, a razão é vista como o cálculo das consequências de conceitos gerais que servem para organizar e expressar nossos pensamentos.

    A habilidade de raciocinar corretamente não é infalível, nem está isenta de erros, mesmo entre indivíduos altamente capacitados e experientes. Erros de raciocínio podem ocorrer em qualquer campo do conhecimento, assim como erros em cálculos aritméticos. A verdade e a certeza não são garantidas pelo consenso ou pela capacidade de raciocínio de uma pessoa ou grupo, mas requerem a submissão a um padrão de razão aceito mutuamente, especialmente em situações de disputa.

    A aquisição da razão e do conhecimento verdadeiro exige que se comece com definições claras e precisas das palavras, estabelecendo o significado dos termos utilizados no raciocínio. Erros comuns que levam a conclusões absurdas incluem a confusão entre os nomes dos corpos e seus acidentes, a atribuição de qualidades de corpos externos a nossos próprios corpos, e o uso inadequado de metáforas, entre outros.

    O autor enfatiza que a capacidade de raciocinar adequadamente, ou seja, de calcular com nomes e conceitos além dos números, é uma habilidade exclusiva do ser humano, mas que também o expõe ao risco de cair no absurdo. A verdadeira ciência, em contraste com as doutrinas errôneas, é alcançada através de um método rigoroso que começa com a definição precisa dos termos e avança de forma ordenada desde as premissas básicas até a compreensão completa das consequências dos conceitos em questão.

    No entanto, o autor adverte que há uma diferença entre a posse de conhecimento científico e a aplicação da prudência natural. Indivíduos que raciocinam incorretamente ou que dependem de regras gerais falhas podem acabar pior do que aqueles que operam com base na prudência natural, desprovida de ciência. Raciocinar com metáforas e conceitos ambíguos pode levar a disputas e mal-entendidos, enquanto aderir rigidamente a regras gerais sem considerar exceções pode ser visto como pedantismo e ser contraproducente tanto na vida privada quanto nos assuntos públicos.

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